Plantio no Assentamento Alçavã/Goiabeiras discute soberania alimentar

16/10/2023 13:30:38
Plantio no Assentamento Alçavã/Goiabeiras discute soberania alimentar

 

 

É setembro no Assentamento Alvaçã/Goiabeiras em Santana do Acaraú, época de estiagem na comunidade. Porém, na Escola Lourenço José de Lira, só se fala em plantio. A instituição está cadastrada no projeto Educação Ambiental nas Escolas, executado pelo Esplar com o financiamento da ActionAid Brasil. A ação realiza oficinas temáticas com as crianças e os adolescentes filiados ao projeto em 19 escolas municipais, localizadas em cinco municípios cearenses, Canindé , Choró, Quixadá , Sobral e Santana do Acaraú.

Neste ano, a temática das discussões é Soberania Alimentar e Nutricional, direito definido pelo Fórum Mundial de Soberania Alimentar como “acesso a alimentos saudáveis, de forma regular e sustentável, pautado pela identidade cultural e alimentar de seu próprio povo ou região”. No dia 27 de setembro, a movimentação nas salas de aulas foi diferente. Neuma Morais, pedagoga do projeto, recebia constante indagação: “que horas a gente vai, tia?”. As crianças e os adolescentes já sabiam que, naquele dia, as atividades didáticas iam acontecer em outro espaço da escola: a horta.

O encontro anterior, no primeiro semestre de 2023, realizou discussões com todos as séries do ensino fundamental na Escola. A pedagoga explica que, do 1° ao 5° ano, as oficinas são mais lúdicas com o uso de figurinhas que remetem aos alimentos, cada criança vai montando o seu prato fictício e analisando o que come. Já nos anos mais avançados, os adolescentes debatem sobre dados de insegurança alimentar e sobre as vivências familiares e comunitárias.

“A gente ia perguntando: vocês comem feijão? Quem aqui tem roçado? Em geral, os familiares destas crianças plantam para comer e, muitas vezes, para vender. Dependendo do nível, a gente perguntava o que eles colocavam (nas plantas) quando surgia a praga e, com isso, a gente já fez um levantamento sobre o tema para discutir a questão dos agrotóxicos nos próximos anos. Quando perguntamos sobre criação, as crianças diziam que tinha muita galinha, porco, vaca, cabra. E as frutíferas? Aí, era um show: acerola, manga, caju, ata, graviola, goiaba, mamão” - conta Neuma.

 

                                                                                                                                                                                                                            Os estudantes aprendem sobre a importância da horta. 

  

A segunda etapa de execução do Projeto neste ano uniu a temática das discussões a uma atividade lúdica e interdisciplinar: o plantio. Para isso, a ação aconteceu na horta da escola, construída pelo poder público. A auxiliar de serviços da escola, Ana Lourdes dos Santos, adubou um dos canteiros centrais com o estrume produzido no quintal das próprias famílias dos estudantes.

As crianças do 1° ao 5° ano fizeram a festa entre sementes, terras e aguadores. Além de plantarem coentro nos canteiros, cada criança trouxe uma garrafa pet de casa para fazer semear alface e levar para casa. Iam brincando e implicando uns com os outros, aprendendo que é preciso ter cuidado com os exageros ao compactar o solo e ao colocar água na terra. Após aprenderem sobre a insegurança alimentar, as crianças conheceram a importância da horta para a manutenção da escola.

“No outro dia, quando eu cheguei na escola para realizar atividades com outras turmas, vieram os relatos. As crianças já tinham colocado um pouco de água (na muda), deixado no sol e compartilhado com os familiares o que tinham feito e a necessidade de cuidar da muda, porque, quando o alface nascesse, eles teriam que comer também para ficarem fortes. Então, aparentemente pode parecer uma coisa simples, mas essas crianças levam para a vida toda”, conclui Neuma.

 

Valorização comunitária

As oficinas trazem um novo olhar dos participantes para os quintais produtivos das próprias famílias e para a importância das atividades desempenhadas por elas para a sociedade, assim como conscientização sobre os males que os produtos industrializados trazem para a saúde. Pedro Lira, 11 anos, reflete: “É bom ter quintal, porque se você não tiver dinheiro para comprar você vai lá e pega uma galinha, tira o feijão e cozinha”.

O garoto vive com os pais e os avós no assentamento em uma propriedade com diversa produção de alimentos. O avô dele, Francisco de Edmilson Lira, é um experimentador agroecológico que foi atendido, graças ao vínculo do neto com o Projeto Educação Ambiental nas Escolas, com uma tecnologia social de reuso de águas cinzas (água do banho e da lavagem de roupas e de louças). A família utiliza o insumo para aguar as plantas frutíferas.

A cada ano, o Projeto traz uma nova temática, geralmente relacionada ao respeito à natureza, à diversidade cultural e étnica e à realidade das crianças e dos adolescentes participantes. Os últimos dois temas abordados foram “Cuidar da água é fundamental para preservar a vida” (2022) e “Tire o Racismo do Caminho que Eu Vou Passar com a minha Cor” (2021).

Maria Liduina Teles, professora da escola, reflete sobre o impacto do Projeto na escola: “A gente como professor acha muito gratificante, porque o Projeto trabalha os temas de acordo com a realidade dos alunos, e eles ficam ansiosos: ‘quando é que o Esplar vem?’.

 

                                                                                                                                                                 Nas oficinas, as crianças tem oportunidade de realizar atividades lúdicas relacionadas a temática da alimentação saudável.

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