O evento acontece no dia 31 de outubro de 2024 e reúne nove testemunhas para depor sobre os impactos do uso dos agrotóxicos no Ceará.
De acordo com o dossiê Agrotóxicos e Violação dos Direitos Humanos no Brasil, uma das principais questões a serem tratadas quando se fala sobre agrotóxico no País é a responsabilização das empresas pelos danos causados às trabalhadoras, aos trabalhadores, às comunidades e ao meio ambiente. O que tem implicações graves quando consideramos que estamos falando de substâncias químicas de alta toxicidade de contaminação.
Os impactos do veneno ultrapassam os territórios diretamente afetados e atingem grande parte da população brasileira. Em 2020, um terço dos alimentos consumidos no Brasil estava contaminados por agrotóxicos, de acordo com a Anvisa (2019), o que representa um nível alto de intoxicação acompanhado de desinformação sobre as doenças causadas por esse consumo.
Em 2023, o Senado aprovou o PL 1459/2022 (Lei 14.785/2023), também conhecida como PL do Veneno, por meio da qual centralizam o registro de novos agrotóxicos sob a responsabilidade do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), excluindo as responsabilidades da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Apesar da mobilização da sociedade civil, em maio de 2024, o Congresso derrubou os vetos do Presidente Lula sobre essa concentração. A exclusão dos órgãos responsáveis pela avaliação dos impactos à saúde e ao meio ambiente abre caminho para a liberação de substâncias potencialmente perigosas sem a devida fiscalização.
Em outras palavras, pode trazer a aprovação de agrotóxicos comprovadamente cancerígenos, danosos ao aparelho reprodutor, aos fetos em desenvolvimento e à produção saudável de hormônios.
A psicóloga Márcia Xavier denuncia que já foi vítima dos agrotóxicos pelo menos três vezes, uma delas foi o assassinato do seu pai, Zé Maria de Tomé, após denunciar problemas de saúde advindos do uso de agrotóxico na Chapada do Apodi. Ela é uma das nove testemunhas de acusação que vão denunciar as consequências do uso do agrotóxico no Ceará.
“Eu costumo dizer que o agrotóxico me fez vítima três vezes. Na primeira vez, eu tive uma infecção de pele que foi o pontapé inicial para o papai (Zé Maria) perceber que a água estava contaminada: eu tive uma dermatose. O segundo foi o assassinato dele devido a luta dele contra o agrotóxico, precisamente contra a pulverização aérea, e, terceiro, a minha filha foi diagnosticada com puberdade precoce, efeito comprovado de agrotóxico também”, argumenta ela.
Neste contexto, o Esplar - Centro de Pesquisa e Assessoria mobiliza o Tribunal Popular dos Agrotóxicos em busca de promover um debate informativo e mobilizador sobre o impacto dos agrotóxicos, não apenas para os trabalhadores do campo, mas para toda a sociedade.
“Em tempo de fake news, de construção de falsos consensos e de imposição de um pensamento único como resposta às crises humanitárias, ambientais e territoriais, nada mais necessário do que a realização de um tribunal popular, onde se pode tirar o véu que cobre os impactos irreversíveis que os agrotóxicos vem causando em nossas vidas”, explica Magnólia Said, coordenadora técnica no Esplar.
Os tribunais populares são iniciativas da sociedade civil, que representam um júri em busca de responsabilização e de mobilização da sociedade sobre um determinado tema. A estrutura deste Tribunal é composta de 9 testemunhas de acusação, 3 de defesa, 5 peritos, um advogado de defesa, outro de acusação e um juiz.
O Tribunal Popular dos Agrotóxicos mobiliza a sociedade civil para expor e combater o uso indiscriminado de veneno no Brasil. Cientistas, agricultores, agricultoras, experimentadores e pessoas diretamente afetadas pelos agrotóxicos estarão presentes, compartilhando suas vivências e buscando soluções para essa ameaça crescente à nossa saúde e ao meio ambiente.
Vandi de Castro, agricultor de Tabuleiro do Norte, relembra:
“Começaram as pulverizações, e quando a gente passava na estrada recebia aquela chuvazinha fina no horário que eles estavam pulverizando, outra coisa que a gente percebeu foi a morte das abelhas o que não existia antes”.
Dentre os temas esperados no Tribunal, estão: a saúde física, mental e reprodutiva das famílias, a contaminação das águas, a falta de fiscalização, o uso do veneno como arma química, a pulverização aérea indiscriminada e os conflitos territoriais.
Essa iniciativa é promovida pelo Esplar – Centro de Pesquisa e Assessoria, com o apoio da CESE, Fundação Heinrich Böll, Brot für die Welt (Pão para o Mundo) e em parceria com os mandatos dos deputados Missias do MST e Renato Roseno, o Instituto Terramar e o Núcleo de Assessoria Jurídica Comunitária (NAJUC/UFC).
Tribunal Popular dos Agrotóxicos
Data: 31 de outubro de 2024
Horário: 8h às 17h30
Local: Auditório da Faculdade de Direito da UFC, Rua Meton de Alencar, s/n - Centro - Fortaleza/CE
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