Educadores e educadoras avaliam Programa Cisterna nas Escolas

29/05/2023 22:29:10

Apenas 27% das escolas brasileiras localizadas em região rural são atendidas por rede de abastecimento de água, de acordo com o Censo Escolar feito em 2014. A falta de água dificulta o cumprimento da carga horária de aulas, prejudica a rotina escolar e a aprendizagem dos estudantes.

Encontro Desafios da Educação do Campo.

Problemas como este afetavam as 83 escolas públicas contempladas pelo Programa Cisternas nas Escolas, a partir da mediação pelo Esplar, Centro de Pesquisa e Assessoria. Em cada uma das escolas, foi construído um reservatório para captação de água da chuva, o que diminuiu a dependência de carros-pipa e possibilitou a normalização no fornecimento de água potável.

No Encontro Desafios da Escolas do Campo, realizado dia 31 de março no município de Canindé, estiveram presentes mais de 80 profissionais da rede municipal de ensino de Caucaia, Ocara, Caridade e Canindé. Os relatos destes professores, professoras, merendeira, gestores e gestoras de ensino no Semiárido cearense mostraram como a construção das cisternas foi positiva para a escola.

“A gente sofria muito com falta d´água. Era preciso liberar os meninos para casa com fome, é a realidade: muitas vezes a única refeição deles é na escola”, lembra a professora Joana Darc, da Escola Indígena ABÁ Tapeba, em Caucaia, onde estudam cerca de 500 crianças e adolescentes. “Deu certo, a cisterna está sendo bem utilizada na escola e não vamos mais sofrer com a falta d´água”, comemora ela.

Situação semelhante foi relatada pela professora Maria Luciene de Lima, diretora de uma escola na comunidade Seis Carnaúbas, em Ocara. “Os pais mandavam o aluno para a escola preocupados se iria haver água”, afirmou. Hoje, com a segurança de abastecimento de 52 mil litros de água armazenados na cisterna, o problema foi solucionado e professores de outras escolas do município desejam também receber o equipamento.

Em muitas comunidades, a colaboração dos familiares dos alunos facilitou a construção da cisterna, como aconteceu no assentamento Tiracanga, do município de Canindé. Antônia Antonieta Santana lembra que as mulheres do assentamento se dispuseram a ajudar na obra. “Vou ajudar para o meu filho ter água de qualidade na escola”, declarou.

Além da estrutura física, o Projeto Cisterna nas Escolas promoveu formações sobre gerenciamento de recursos hídricos com os profissionais da escola, trabalho igualmente importante, segundo Antonieta. “Este projeto está trazendo informação para debater nas comunidades”, afirmou.

A Secretária de Educação do município de Canindé, onde foram feitas 34 cisternas, agradece a colaboração do Projeto. “A gente vê a cisterna, mas, por trás disso, há um trabalho belíssimo de conscientização. É um projeto sério e comprometido, são de ações como essa de que o Semiárido precisa. Ter a garantia de que nossos alunos tem agua boa para o consumo, eu acredito que não há felicidade maior do que essa”. O município passa por racionamento de água em tempo de estiagem e a escolas eram atendidas por carro-pipa .“A gente tinha um logística com um carro de abastecimento, mas não atendia em tempo hábil por que a demanda é muito grande”, lembra ela.

Rosângelo Marcelino, assessor do Programa Cisterna nas Escolas , palestrou sobre o direito à Educação e apresentou índices que mostram o descaso com as escolas do campo. Falta de estrutura física adequada, de abastecimento de água de qualidade e as dificuldades de transporte , são situações constantes nas escolas do Semiárido que visitou.

“O modelo de educação em curso é injusto e excludente. Os estudantes que estão na zona rural recebem a mesmas condições dos alunos que estão na zona urbana? A gente está oferecendo uma educação de qualidade? Concretamente não estamos”, concluiu ele.

O Censo escolar de 2014 aponta que mais de 37 mil escolas do campo foram fechadas nos últimos 15 anos. Apenas em 2014 foram fechadas mais de quatro mil escolas, 375 delas no Ceará.

Propostas

Os participantes do Encontro também analisaram a aplicação da educação contextualizada, cuja didática é interligada com a cultura dos povos rurais e grupos tradicionais, como os indígenas e os quilombolas.

“Entender a geografia do meu espaço, a história da minha comunidade e as relações culturais, é importante para a gente valorizar esse modelo de educação libertadora e não alienante, é importante que a gente proporcione isso nas escolas do campo ”, declarou Rosângelo.

Andrea Sousa, integrante do Fórum Cearense Pela Vida no Semiárido e coordenadora do Esplar, apontou a necessidade de relacionar o conteúdo da educação formal com as informações sobre o Semiárido. “Como a gente faz com que a escola do campo dialogue com a realidade dela? Por que a gente associa o componente curricular à vida das pessoas? Por que, como disse Paulo Freire, fica muito mais fácil entender o mundo"

Para Jakcson Nogueira, especialista em Educação no Campo e membro da Secretaria de Educação de Canindé, muitos professores reforçam o preconceito de que o Semiárido é um lugar de atraso, ignorando a importância do agricultor familiar.
Ele propõe alternativas como integrar a educação municipal com a ação social do município e a Secretaria de Infraestrutura, combater a evasão e fazer uma boa gestão dos livros nas bibliotecas.

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