Mulheres defendem divisão do trabalho doméstico para mudar cultura machista

29/05/2023 23:33:06

Apesar das cobranças recaírem sempre sobre as  mulheres quando se trata do trabalho doméstico, e das fortes imposições machistas para elas que sirvam às suas família sem ter a colaboração dos companheiros e nem dos filhos/as, as mulheres estão iniciando uma nova forma de pensar e agir sobre a divisão sexual do trabalho.

No lançamento da campanha “Pela Divisão Justa do Trabalho Doméstico”, realizado nesta sexta-feira (15) com a presença de 35 mulheres, as participantes expuseram a mudança de comportamento conseguido em suas casas  quando entenderam que as obrigações domésticas devem ser de todos/as e passaram a exigir a cooperação de seus maridos e familiares.

A agricultora Antônia Marta Silva, de Quixadá, falou da sua rotina “sempre a primeira a acordar e a última a ir dormir” para deixar o café da manhã pronto, limpar a casa, trabalhar nas hortas e roçados, lavar roupa, etc. Uma maratona extenuante para a maioria das mulheres rurais, para quem a campanha foi idealizada.

“Dificilmente uma mulher não vai ter consciência do trabalho que faz em casa e do quanto isso cansa”, argumentou a educadora popular do Inegra, Francisca Sena. Mesmo tomando boa parte do tempo delas, cerca de vinte horas semanais, a labuta doméstica não é reconhecida como uma forma de trabalho pelo modelo de produção capitalista, pois não gera lucro, foi o que apresentou a professora da Universidade Federal do Ceará, Gema Galgani. “Quando o trabalho não é compartilhado, nem valorizado pela sociedade, aí é que o problema se instala”, afirmou Gema.

“Aos poucos a gente vai mudando e consegue esse respeito. O que a gente puder transformar, vai transformar”, estimulou a educadora feminista e técnica do Esplar,  Magnólia Said (foto).

Ao assistir ao vídeo da campanha, a agricultora Maria de Fátima Vieira Martins, da cidade de Forquilha, identificou-se com a personagem Rosa, uma mulher explorada que faz todo o trabalho doméstico sozinha e depois passa dividir esta rotina com os filhos, as filhas e o companheiro. “Há trinta anos, eu era como a Rosa”, lembrou Maria de Fátima.  Mãe de quatro filhos e trabalhando doze horas por dia, a trabalhadora rural decidiu  transferir  aos/às  familiares a responsabilidade com a casa e a alimentação.

Maria Eliane de Lima, integrante do Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC); Carla Alves, professora de História militante do Grupo Pretas Simoa e Francisca Sena, educadora do Inegra representaram as lutas das mulheres negras durante  o debate. Em  sua argumentação,  Sena pontuou que as mulheres negras são as mais sobrecarregadas pelo trabalho doméstico e Eliane criticou a exploração do trabalho delas pela classe média.

A mudança cultural que todas buscam, em que as mulheres não sejam exploradas em seus relacionamentos afetivos e tenham liberdade para buscar realização pessoal, depende da educação de crianças não-machistas. Elas debateram sobre a necessidade de enfrentar o preconceito machista em suas comunidades para diminuir a resistência dos maridos em fazer sua parte e das próprias mães em ensinar seus meninos a cuidarem da casa.

As agricultoras, assistentes sociais, educadoras presentes no lançamento integram associações comunitárias, grupos de mulheres, projetos sociais e sindicatos dos trabalhadores/a rurais em suas cidades. Elas comprometeram-se a levantar o debate da divisão justa do trabalho doméstico em reuniões e assembleias.

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