Além dos municípios presentes no Encontro, Ocara também será contemplada pelo projeto.
No evento, foi apresentado detalhes do projeto, que é desenvolvido pela Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA) em parceria com o Ministério da Educação, as secretarias de educação e de infraestrutura dos municípios e quatro unidades gestoras, entre as quais está o Esplar.
O presidente do Esplar, Marcus Vinicius de Oliveira, conversou com os presentes sobre o Plano de Convivência com a Seca, do Governo do Estado do Ceará. Marcus Vinicius apresentou as ações emergenciais e estruturantes previstas no Plano. Para ele, o documento não deu a devida relevância para o uso das cisternas na atual realidade de estiagem. “Tanto a cisterna de placas como a cisterna calçadão são importantíssimas para o semiárido, pois elas democratizam a água”, afirmou. Marcus Vinícius também lamentou o pouco detalhamento no Plano para ações educativas de uso consciente da água.
Após a apresentação do Plano de Convivência com a Seca, as representantes de escolas indígenas e quilombolas, instituições priorizadas no Projeto Cisterna nas
Escolas, falaram da situação das escolas. Naara Tapeba, representante das escolas indígenas de Caucaia, enfatizou a relação das instituições de ensino indígenas com a questão ambiental: "Nas terras indígenas, as escolas são entendidas como berço da comunidade, pois é ali que as crianças aprendem os valores e a ideia de preservação do meio ambiente”. Segundo Naara, o projeto irá impactar positivamente na rotina das escolas que já enfrentam dificuldades com a falta d’água.
A representante das escolas quilombolas de Caucaia, Cláudia Quilombola, também tem expectativas positivas em relação ao projeto. Ela destacou que as atividades de educação contextualizadas que estarão presentes no Cisternas nas Escolas dialogam com o trabalho quem vem sendo feito nas escolas quilombolas: “Vai casar com o nosso pensamento de educação escolar quilombola, que é uma educação de preservação do meio ambiente, de redução da quantidade de lixo da comunidade, que ver o meio ambiente como parte de si mesmo. Estamos lutando por essa educação”, explicou.
O assessor técnico da Associação Programa 1 Milhão de Cisternas (AP1MC), Rosângelo Marcelino, apresentou os detalhes do projeto. Ao todo, serão construídas 5 mil cisternas, sendo 332 no Ceará. O Esplar está responsável pela construção de 83 cisternas. O projeto está dividido em quatro etapas: mobilização social, capacitações, construção e caráter estrutural (ações de melhoria de captação e distribuição da água). Após o momento de apresentação do projeto, os representantes dos municípios receberam o termo de compromisso e esclareceram dúvidas.
Para a secretária de Educação de Caridade, Amanda Lopes, a construção das cisternas nas escolas do município vai ajudar a amenizar a situação difícil enfrentada atualmente: “As cisternas vão melhorar bastante o nosso trabalho porque temos mais de 20 escolas que não têm nenhum meio de abastecimento de água, tem que pegar na casa do vizinho e isso complica”, disse.
Antônia Antonieta Santana da Silva, representante da Comissão de Canindé e secretária de Mulheres do Sindicato de Trabalhador e Trabalhadora Rural do município, explicou que o projeto é o resultado de uma longa luta dos movimentos sociais no enfrentamento aos problemas de abastecimento nas escolas. Antonieta informou que em Canindé os dois principais reservatórios, São Mateus e Souza, estão com baixos níveis de água. “No nosso assentamento, havia dias que as crianças tiveram que voltar da escola, pois tinha merenda, mas não tinha água para prepara a comida. Então, as cisternas chegam num momento muito oportuno. E a gente vai arregaçar as mangas para ver mais essa semente nascer de uma vida digna. A gente terá a certeza de que os nossos filhos estão indo para a escola e tomando uma água de qualidade”.
Atualmente o Esplar está trabalhando na visitação e cadastro das escolas que receberão as cisternas. A coordenadora do projeto, Neuma Morais, enfatizou o aspecto político que as cisternas podem levantar no ambiente escolar: “Será uma possibilidade de discutir a água na perspectiva política. Antes os reservatórios da água estavam nas terras dos coronéis. Agora ela pode estar distribuída em diferentes espaços, inclusive na escola”, destacou.