A Casa de Sementes Nova Conquista dos Agricultores (as) Familiares do Riacho do Meio começou atividade com 5 quilos de sementes doadas por cada um dos fundadores, formando os primeiros 60 quilos de estoque de sementes crioulas. A partir de então, as famílias que necessitassem de sementes para produzir poderiam recorrer à casa e tomar emprestadas as sementes que precisassem. Na safra seguinte, a família devolveria a quantidade que pegou e doaria mais 20% de sementes.
Para controlar a entrada e a saída das sementes, a casa conta com seis pessoas que cuidam da organização: Edinho, Palito, Das Dores, Neném, Beto e João Félix.
Com a chegada da casa, começou uma onda de conscientização e velhos hábitos nocivos ao ambiente foram abandonados para dar lugar à agroecologia. As famílias associadas à casa não mais desmatam, nem queimam vegetação e também não usam veneno. Isso garante sementes de qualidade para consumo das famílias e para venda.
Guardar e preservar
Os modos de estocagem são repassados de geração em geração. O agricultor João Félix lembra os cuidados de seu avô ao armazenar sementes de pepino e jerimum. As sementes eram colocadas em um pano e cuidadosamente embrulhadas. Dessa forma, poderiam ser conservadas até o ano seguinte.
Com as trocas com outros agricultores e agricultoras e com as experiências acumuladas de cada um e cada uma, as técnicas de conservação são hoje levadas para a casa de sementes. O bom armazenamento dessas sementes faz parte do cuidado com a casa. Bem armazenadas, as sementes podem durar até três anos, garante João Félix. As sementes velhas vão saindo para dar lugar às novas, de acordo com as necessidades de quem produz.
A casa de sementes vem contribuindo para resgatar e preservar espécies tradicionalmente cultivadas na região, sementes já adaptadas às condições locais. De acordo com João Félix, na época da implementação da casa, foram consultadas as pessoas mais velhas da comunidade para saber quais sementes eram cultivadas e quais acabaram por desaparecer com o passar dos anos. Com essas informações, os guardiões e guardiãs da casa foram em busca das tais sementes em outras comunidades.
A casa hoje tem no seu patrimônio comunitário 14 variedades de feijão e 4 de milho, além de sementes de arroz, fava, algodão e gergelim.
Ter a casa de sementes na comunidade reduziu a dependência dos produtores e produtoras com relação ao uso das sementes distribuídas pelo governo através da Embrapa, que acaba com a tradição do plantio das sementes crioulas e podem ser geneticamente modificadas (transgênicas). Quando há necessidade, qualquer pessoa da família associada à casa pode pegar as sementes que precisar e no tempo em que quiser. Sem custo. A troca é feita apenas através de sementes. Caso não chova, no ano seguinte e a família não consiga devolver as sementes que pegou emprestadas, ela pode esperar por mais um ano e somar um pequeno acréscimo de sementes na hora da devolução.
Luta contra transgênicos
João Félix ressalta com certo orgulho que a produção da agricultura familiar de Riacho do Meio é quase totalmente livre de agrotóxicos. Foram anos de lutas e conversas com as pessoas da comunidade até chegar ao nível de conscientização coletiva. As pessoas de lá sabem que plantar sem veneno é melhor e a vinda do projeto de consórcios agroecológicos trazido pelo Esplar há 10 anos começou esse processo que trouxe essa nova visão aos agricultores e às agricultoras sobre seus processos de produção. Hoje, mesmo as famílias não associadas à casa de sementes plantam sem fazer uso de agrotóxicos.
Agora ele destaca outros inimigos que precisam ser combatidos: os transgênicos. Invisíveis mesmo aos olhos mais atentos, as sementes chegam através das sementes doadas pelo governo através da Embrapa. É possível fazer um teste das sementes que chegam para saber se são ou não transgênicas na própria casa de sementes. As que não são, podem ser plantadas sem problemas. Já as transgênicas, João Félix orienta que não sejam plantadas, que se dê outro fim. Dessa forma, é fortalecida a cultura do plantio das sementes crioulas, resiste a memória das pessoas da comunidade e dá continuidade ao trabalho já realizado há anos e passado por avós, pais e netos.
Fotos e texto: Evelyn Ferreira