No Brasil, desde 1999 o cuidado com a natureza é ensinado nas salas de aula seguindo a Política Nacional de Educação Ambiental. As iniciativas de Organizações Não Governamentais nesta área têm sido aliadas na disseminação da consciência ecológica entre as crianças.
No Esplar, Centro de Pesquisa e Assessoria, o Projeto Educação Para a Liberdade promove oficinas com crianças desde 2011. O projeto é mantido com doações arrecadas pela instituição italiana We World, que financia o trabalho em 35 escolas municipais de Nova Russas, Monsenhor Tabosa e Tamboril, onde centenas de alunos e alunas da educação infantil participaram das atividades da campanha “Água Nossa de Cada Dia”, nos meses de abril e maio de 2016.
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Durante a visita das educadoras do Educação Para a Liberdade àquelas escolas da Região Inhamuns, as turmas de alunos e alunas de segundo ao quarto ano identificaram as fontes de água na sua região, conversaram sobre como preservá-las e reconheceram os hábitos domésticos de reaproveitamento. As crianças foram apresentadas a conteúdos transdisciplinares que relacionaram a água ao funcionamento do organismo humano, às propriedades químicas, ao ciclo hidrológico, ao desenvolvimento das plantas e à distribuição de água doce no planeta e na sua região.
A abordagem lúdica das oficinas é feita com jogos educativos. As perguntas sobre conservação dos rios, características da água potável, entre outras, instigam o conhecimento ecológico. O brinquedo feito com garrafa plástica valoriza a participação das crianças no trabalho de reciclagem e reforçam entre eles e elas a preocupação de não jogar lixo nos rios.
Água pra criança
Crianças que moram em regiões secas vivenciam cotidianamente o uso racional de água em suas casas e escolas. “Minha avó, sempre depois de lavar roupa, joga a água nas plantas”, lembrou Emanuele Lima,de sete anos, estudante da escola EMEF João Bandeira da Silva, localizada na comunidade Holanda de Tamboril.
Nos municípios do semiárido cearense, os moradores têm se adaptado a passar por longos períodos com poucas chuvas. Com açudes quase secos, algumas comunidades dependem dos carros-pipa e precisam poupar água, priorizando o uso para beber, cozinhar e para o banho. Nas escolas, há cacimbas, poços profundos ou cisternas para atender o fornecimento nos bebedouros, cantinas e banheiros, e as crianças, desde as séries iniciais, são ensinadas a zelar pela água disponível.
Para algumas famílias, o acesso à água ainda é escasso por não terem abastecimento público e nem grandes reservatórios que captem água da chuva. É assim na casa da menina Maria do Socorro Silva, de 10 anos. Todos os dias ela precisa acompanhar a mãe até o cacimbão da comunidade para captar água, mas percebe que o líquido que coletam não é potável. “A água está vindo barrenta como a do açude. Queria ter uma cisterna porque não faltaria água”, disse. Na casa de Ana Aparecida, de 8 anos, também não há água nas torneiras e, todos os dias, antes de ir para a escola, banha-se na barragem do açude de sua comunidade. Elas estudam na escola Mariano Rodrigues da Costa em Nova Russas e participaram da oficina “Água Nossa de Cada Dia”, onde ouviram sobre o direito universal de todos os seres humanos à água limpa.
É chuva!
Quando chove é dia de festa. As crianças tomam banho nas bicas e correm pelas ruas debaixo do aguaceiro. Essa é uma vivência comum à infância em diversas culturas, mas, na região Semiárida, antes da algazarra, vem o cuidado. “Quando chove a gente lava as vasilhas e coloca na bica e depois toma banho na chuva”, diz Paloma da Silva Lima, de 10 anos, estudante do quinto ano da EMEF João Bandeira da Silva.
Observar a natureza é um das formas de as crianças absorverem os princípios da educação ambiental e, na região rural, depois da terra molhada, é sentida a mudança na paisagem ao redor “o roçado quando chove fica a coisa mais linda”, observa Emanuele Lima.