No Dia Internacional da Mulher, agricultoras das cidades de Monsenhor Tabosa, Tamboril e Nova Russas levaram os produtos do seu trabalho para I Feira Feminista da Agricultura Familiar de Monsenhor Tabosa.
As bancas repletas hortaliças, ovos, comidas típicas, queijos e doces mostraram a força dos quintais produtivos que as 240 mulheres do Projeto Educação Para a Liberdade cultivam em suas casas e de onde tiram os alimentos orgânicos para suas famílias e para a comercialização. O artesanato em crochê, outra atividade dos grupos de mulheres da região, também esteve à venda.
Alinhado às manifestações dos movimentos sociais em todo o País, o Encontro Territorial promovido pelo Esplar, com a participação de 120 trabalhadoras rurais, pautou a reivindicação “Nenhum Direito a Menos! Mulheres Pela Reforma da Previdência’. As atividades foram iniciadas pela manhã com a feira solidária na sede do Sindicato dos Agricultores Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STRAAF) de Monsenhor Tabosa. Em frente à Câmara Municipal, servidoras e servidores municipais também protestaram contra as mudanças no calendário escolar e a redução do período de férias para professoras e professores.
Em seguida, as mulheres convidadas pelo Esplar participaram de debates sobre a Proposta de Emenda à Constituição 287/2016, que pretende alterar a seguridade social no Brasil. Se for aprovada, a Reforma da Previdência obrigará as brasileiras e os brasileiros a trabalhar por 49 anos para pagar impostos, antes de terem direito de receber o valor total da aposentadoria. Homens e mulheres deverão trabalhar pelo menos até os 65 anos de idade e o tempo mínimo de contribuição passa a ser de 25 anos.
“Muitos benefícios que conseguimos em 1988 estão sendo cassados, precisamos estar organizadas para lutar por nossos direitos. Do jeito que está aí, nenhuma mulher e nenhum homem vai se aposentar”, disse a Secretária de Mulheres do Sindicato de Agricultores Trabalhadoras Rurais de Tamboril, Lúcia Pereira.
Maria Onete Cardoso, presidenta do STRAAF de Monsenhor Tabosa, e uma das organizadoras da Feira concordou: “Os poderosos querem que a classe trabalhadora, principalmente nós rurais, volte para o tronco”. A sindicalista falou da necessidade de as mulheres participarem das lutas políticas e anunciou que a categoria dos trabalhadores e trabalhadoras rurais vai aderir à paralisação nacional no dia 15 de março.
Joana Damasceno, agricultora da comunidade de Lagoa do Norte, falou às companheiras da necessidade da organização em grupo para protestar contra as decisões do Governo que prejudicam as trabalhadoras/es. “Nós somos vitoriosas, porque somos corajosas em dizer não às injustiças no Brasil. Não vamos deixar nossas filhas e netas serem prejudicadas por este governo golpista”, declarou.
25 anos de trabalho de sol a sol
Antônia de Maria Carvalho Lima começou a trabalhar na agricultura aos sete anos. Ela lembra que, ainda criança, acompanhava os pais no trabalho do roçado para capinar o mato, plantar e colher milho e o feijão. Com 28 anos, sindicalizou-se no Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais da cidade de Nova Russas e, aos 55 anos de idade, após 23 anos de contribuição, conseguiu aposentar-se.
“É um trabalho de sol a sol, muito sofrido e pesado. São 12 horas por dia e, para a mulher, ainda tem o trabalho doméstico”, ela diz. Tantas jornadas provocam intenso desgaste físico, como dor nos joelhos e nos pés, impossibilitando continuar o serviço da agricultura. Não podendo produzir, a alternativa é a aposentadoria, que, muitas vezes, é o único recurso financeiro da família. “Se não for com o aposento, como vai fazer? É uma ignorância do Governo, um desrespeito. Não sentem na pele a dor do trabalhador e da trabalhadora rurais”, denuncia Antônia de Maria.
Andrea Souza, coordenadora do Projeto Educação Para a Liberdade, vê Reforma da Previdência como “um ato desleal de um governo que odeia o povo”. Seu pronunciamento no Encontro Territorial alertou para as consequências do ajuste fiscal no Brasil, com a redução de investimentos em Saúde e Educação por vinte anos, e denunciou o descaso do Governo com a vida das mulheres. “O Governo não reconhece o trabalho reprodutivo. A gente educa, cria homens e mulheres para trabalhar pela sociedade e não temos nosso trabalho visibilizado. Sabemos da força do nosso trabalho e queremos reconhecimento da sociedade”, disse ela
ESPLAR - Centro de Pesquisa e Assessoria. ©Copyright 2024. Todos os direitos reservados.
Usaremos cookies para melhorar e personalizar sua experiência se você continuar navegando. Podemos também usar cookies para exibir anúncios personalizados. Clique em EU ACEITO para navegar normalmente ou clique aqui e saiba mais sobre a nossa Política de Privacidade e nossa Política de Cookies.