Uma proposta de cotonicultura sustentável e não poluente vem sendo disseminada pelo Esplar entre comunidades agricultoras do Ceará há 27 anos.
Em anos de chuvas favoráveis, o método de consórcio agroecológico dá aos cultivadores e cultivadoras de algodão boas colheitas da pluma, vendida a empresas ecológicas por preços justos. Também são colhidas as safras de milho e feijão e gergelim, plantados conjuntamente nos roçados, e que servem tanto para a alimentação da família, quanto para aumentar sua renda.
O cuidado dos agricultores e agricultoras familiares com a terra onde vivem e cultivam despertou a atenção de organizações filantrópicas ligadas à indústria têxtil, que buscam uma forma ambientalmente responsável de produzir algodão. Há um ano, o Instituto C&A financia um projeto do Esplar destinado a orientar 80 famílias do Sertão Central e Sertões de Crateús a plantar uma espécie de algodão mais resistente à estiagem e que produz durante mais de cinco anos, o algodoeiro Mocó.
Anita Chester dirige o Programa de Matérias- primas Sustentáveis do time global do Instituto C&A e veio ao Ceará conhecer a comunidade Riacho do Meio, no município de Choró. Ali, onze famílias seguem a agroecologia e plantam seus roçados de algodão sem incinerar o solo e nem pulverizar veneno, entre outros cuidados.
Atualmente, para cultivar algodão, a indústria têxtil contamina o solo e a água com 10% de todo o volume de agrotóxicos utilizado no mundo. Diante do desafio de modificar estas práticas, o Instituto C&A, que desde 2015 faz parte de uma organização global, apoia a produção sustentável desta matéria-prima na Índia, China, Paquistão, Tanzânia e no Brasil, onde tem parceria com o Esplar.
Segundo a economista, apenas 1% por cento do algodão plantado no mundo é orgânico, por isso a sua instituição tem a meta de que 50 mil agricultores e agricultoras familiares se tornem produtores/as orgânicos até o ano de 2020. “Queremos trabalhar com projetos que possam ser escalonados”, afirmou Anita.
Para aumentar a quantidade de algodão produzido, é necessária a adesão de mais agricultores/as em outras regiões do Ceará, é o que informa Pedro Jorge Bezerra Ferreira Lima, agrônomo fundador do Esplar que acompanha comunidades agricultoras de algodão há trinta anos. Atualmente, o Instituto C&A mapeia as comunidades e instituições com experiência na cotonicultura orgânica para formar uma rede de incentivo.
Anita Chester, diretora de matérias-primas sustentáveis; Margarida Curti Lunetta, gerente deste mesmo projeto do Instituto C&A; Sílvio Moraes, agrônomo pesquisador do algodão orgânico e os técnicos e técnicas do Esplar que acompanham os consórcios agroecológicos visitaram o roçado de Antônio Alberto Benício de Melo e Raimunda Rosalba de Souza Melo, na comunidade Caiçarinha, em Choró.
Em apenas um hectare de terra cultivada, a família conseguiu colher, neste ano, 600 quilos de Algodão-Mocó, dois mil quilos de milho e 500 quilos de feijão. Para ter a boa safra, Alberto e Rosalba cuidam da terra, nutrindo-a com matéria orgânica, como esterco e folha de carnaúba triturada. Os hábitos de conservação ambiental da família são diferentes dos vizinhos/as que usam o fogo no preparo da terra e aplicam veneno. Uma estratégia defendida pelo Esplar e pelo Instituto C&A é que os/ agricultores/as se tornem exemplo da causa ecológica e, com as boas colheitas que têm, convençam outras pessoas de sua comunidade a aderir a este tipo de plantio.
Os valores ambientais defendidos pelas famílias são um aspecto positivo para os investidores. “Eles falam pelo coração, estes valores familiares nos fazem investir e trabalhar com este tipo de agricultura”, declarou Chester.
No roçado de João Alberto Pinheiro Fernandes, os pés de Algodão-Mocó foram plantados há três anos e já produziram três safras, cuja produtividade só tem aumentado: de 55 quilos em 2016, para 210 quilos em 2017. Após o descaroçamento, as sementes são devolvidas ao produtor, e Beto garante: “nossas espécies são crioulas mesmo, não plantamos transgênicos”.
“Estamos tentando fortemente que o cultivo seja feito com sementes locais. O maior problema hoje é que cerca com 80% do cultivo de algodão do mundo é feito com sementes transgênicas. A Índia é o maior produtor de algodão no mundo e 99% do cultivo é de transgênicos”, afirmou Anita. O plantio de sementes transgênicas das grandes empresas empobrece as comunidades agricultoras e aumenta a dependência na utilização de agrotóxicos.
O Algodão-Mocó é uma espécie adaptada ao Nordeste e, no último ano, foi plantada em 8 comunidades acompanhadas pelo Esplar. “Estou levando sementes no meu bolso e vou tentar cultivar em outras regiões”, brincou Anita. O Programa de Materiais Sustentáveis é coordenado em Delhi, capital da Índia, e a diretora percorre cinco países para monitorá-lo.
Acreditar nos Jovens
A produção de gergelim agroecológico em Riacho do Meio, semeado nos consórcios, fez surgir o grupo Jovens Sementes do Sertão, que há três anos produz o óleo extravigem, doce e paçoca desta semente. Há dois meses, o grupo inaugurou o galpão de beneficiamento construído com recursos da Fundação Banco do Brasil e o Instituto C&A e, em agosto de 2017, recebeu a visita do Instituto C&A.
O grupo teve capacitações promovidas pelo Esplar e pela Embrapa e começou a produzir óleo e paçoca de gergelim com a doação de 84 quilos de sementes feita por Francisco Antônio Maciel Dantas, um produtor de Riacho do Meio. Nos anos seguintes, com o lucro obtido, os jovens passaram a comprar gergelim agroecológico de sua própria comunidade e, com a venda de seus produtos, movimentar o comércio de Choró e de cidades vizinhas. “As pessoas acreditaram na nossa capacidade e a gente tem tudo para colocar adiante”, afirmou Geane Barbosa, uma das treze integrantes do Grupo.
“O que eu vi hoje eu acho fantástico. Continuem trabalhando desta forma para influenciar outras pessoas a também cuidar do solo e da água”, disse Anita aos produtores e produtoras de Riacho do Meio.
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