Ações por igualdade de gênero executadas no Projeto Paulo Freire (PPF) destacam-se em relatório final do diagnóstico sobre enfoque em gênero nos projetos apoiados pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), agência humanitária da Organização das Nações Unidas (ONU). O Esplar – Centro de Pesquisa e Assessoria atua na execução do PPF na região do Inhamuns, que tem o propósito de reduzir a pobreza e elevar o padrão de vida de agricultoras e agricultores familiares através da inclusão social econômica de forma sustentável.
O diagnóstico foi apresentado por Rodica Weitzman, especialista em gênero, durante reunião de projetos financiados pelo FIDA no Brasil, que ocorreu no XI Fórum de Gestores Estaduais Responsáveis pelas Políticas Públicas de Apoio à Agricultura Familiar no Nordeste. De acordo com Weitzman, o objetivo do diagnóstico foi apontar os pontos frágeis e as fortalezas dos projetos no que tange a “transversalização” do enfoque em gênero. “O enfoque em gênero não é só uma parte do projeto. Deve atravessar de forma transversal todos os aspectos, desde o plano estratégico até o orçamento”, ressaltou Weitzman durante a apresentação.
Para garantir o enfoque em gênero, conforme a especialista, os projetos devem garantir a participação efetiva das mulheres, não somente como público-alvo, mas também com apoio pessoal às beneficiárias. Apesar de a maior parte dos projetos terem cotas mínimas de participação das mulheres como beneficiárias prioritárias, Weitzman ponderou que apenas isso não é suficiente. “A gente não pode achar que apenas atingir uma cota mínima é trabalhar com enfoque em gênero. É um passo de um processo muito mais abrangente”, explicou.
Além de garantir a participação das mulheres como beneficiárias, é fundamental a presença de mulheres como técnicas das entidades executoras dos projetos, conforme Andrea Sousa, coordenadora de projetos do Esplar. De acordo com o diagnóstico, apenas três dos projetos analisados contam com uma especialista em gênero como integrante das equipes técnicas, dentre eles, o Projeto Paulo Freire. Francisca Sena, especialista em gênero, raça e etnia atua há um ano no PPF e empenha-se na elaboração de uma estratégia metodológica para “Gênero e a Etnia Quilombola”.
Andrea Sousa ressaltou ainda a importância do financiamento de tecnologias sustentáveis que garantam o acesso à água para o consumo e para a produção. Conforme a coordenadora, a responsabilidade pela busca por água é destinada tradicionalmente às mulheres, e a dificuldade de encontrar esse recurso desperdiça energia e tempo delas que poderiam ser usados na participação política em espaços de decisões públicas. “O diagnóstico aponta o protagonismo das mulheres nos quintais produtivos, sendo necessária a prioridade de programas ou projetos que pautem o acesso às tecnologias de captação de água, como as cisternas de produção e sistemas de reuso de água”, explicou.
O Projeto Paulo Freire, assim como o Esplar, adota o enfoque em gênero, com perspectiva feminista, tendo como foco a divisão sexual do trabalho e a socialização dos cuidados domésticos para evitar uma sobrecarga de trabalho pelas mulheres. Exemplo disso é a campanha “Pela Divisão Justa do Trabalho Doméstica”, da Rede Ater Feminismo e Agroecologia do Nordeste, da qual o Esplar é integrante. Além disso, as mulheres compõem 52% do público atendido pelo Esplar por meio do PPF, somando um total de 974 beneficiárias.