A tarde do primeiro dia do Encontro Estadual de Agroecologia do Ceará, que ocorre em Sobral, foi marcado pela vivência “Carrossel de Experiências do Semiárido”, na qual cinco experiências realizadas por redes de agricultoras e agricultores foram apresentadas aos participantes do evento.
A Escola de Educadoras Feministas, organizada pelo Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste (MMTR-NE) foi apresentada por Lucivane Ferreira, diretora da iniciativa no Ceará. De acordo com Lucivane, o movimento surgiu em 1986, em um momento de muita invisibilidade das mulheres do campo, para criar um espaço de fala para elas. Para fortalecer o movimento e as mulheres, percebeu-se que era preciso investir nos processos de formação.
Em 2015, houve a primeira formação da Escola de Educadoras Feministas, da qual saíram uma turma de multiplicadores feministas. “A escola se constituiu como espaço para ampliar o conhecimento das mulheres e para reafirmar o feminismo. Até então nós não nos identificávamos como feministas. Tínhamos a visão estereotipada do que é ser feminista”, revela Lucivane. A formação ocorre de forma contínua durante um ano por meio de quatro módulos: História do Brasil; Sociologia; Economia Rural e Agroecologia; e Feminismo Rural e Auto-organização das Mulheres.
Lucivane ressalta que 30% das vagas da escola são destinadas à juventude. Ano passado, as participantes jovens chegaram a 50%. “Nosso público é composto por mulheres de todas as idades. Em 2017, passaram 29 mulheres pela escola, 23 delas de forma ativa”, conta.
A experiência da RIS – Rede de Intercâmbio de Sementes foi apresentada por Zé Maria Gomes Vasconcelos, da Rede Cáritas Diocesana Sobral. No Ceará, as Casas de Sementes iniciaram na década de 1990, como construção coletiva entre Dom Fragoso e instituições como Esplar – Centro de Pesquisa e Assessoria, Cáritas e sindicatos. Enquanto rede, a RIS só surge em 1991, sendo composta atualmente por 45 entidades entre sindicatos, cooperativas, associações, assentamentos e comunidades tradicionais. A rede está distribuída em território cearense e suas microrregiões, articulando-se com o Fórum Cearense Pela Vida no Semiárido, Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) e Articulação Nacional de Agroecologia (ANA). Conforme Zé Maria, o objetivo da rede é resgatar e preservar as Sementes Crioulas enquanto patrimônio genético. “Agricultores e agricultoras são quem detém esse conhecimento no patrimônio genético de suas sementes”, conclui.
Outra experiência apresentada durante o carrossel foi a Rede de Feiras Agroecológicas e Solidárias, que surgiu, em 2003, quando agricultoras e agricultores familiares participaram do Curso de Agentes Multiplicadores em Agroecologia. Com produção agroecológica, livre de agrotóxicos e preços justos, as feiras são alternativas para quem procura se alimentar de forma saudável. Atualmente, a Rede atua em quatro territórios: Sobral, Sertão Central, Vales do Curu e Aracatiaçu e Maciço de Baturité. De acordo com Maria de Fátima dos Santos, conhecida como Fafá, moradora da comunidade de Genipapo, em Itapipoca, agricultora e coordenadora da Rede, a iniciativa está se articulando para fortalecer ainda mais as feiras comunitárias, solidárias e municipais.
Já a Rede de Agricultoras(os) Agroecológicas(os) Solidárias(os) surgiu em 2005 na região norte e central do Estado do Ceará. A agricultora familiar Rita Maria, do município de Tururu, relembra que, somente depois da chegada da rede, ela conseguiu desenvolver a segurança alimentar de sua família e de sua comunidade. Atualmente, o projeto é aliado aos princípios agroecológicos e enxerga a natureza como um lugar de prosperidade e produção.
“Água para a vida e não para a mina”. Com essa frase, o Movimento pela Soberania Popular na Mineração se propõe a debater e posicionar-se sobre os interesses das mineradoras na exploração nos territórios camponeses ou tradicionais. Conforme Erivan Silva, agente Cáritas, desde a década de 1970, quando iniciaram as pesquisas em Santa Quitéria sobre urânio - material altamente radioativo - e fosfato, a ideia “vendida” à população é antiga: grandes empresas que vão gerar empregos. A realidade, bem distante desse discurso, tem levado as comunidades atingidas diretamente pela exploração a se unir e buscar providências que considerem os impactos ambientais e sociais.