A construção de cisternas de 52 mil litros foi realizada em escolas dos municípios de Canindé, Caucaia, Ocara e Pacajus.
O programa Cisternas nas Escolas trouxe em 2018 mudanças significativas no acesso à água de 31 escolas rurais cearenses por meio da construção de cisternas de 52 mil litros. Desenvolvido pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), em parceria com o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), o programa teve sua quarta e última etapa executada pelo Esplar – Centro de Pesquisa e Assessoria nos municípios de Canindé, Caucaia, Ocara e Pacajus.
Em etapas anteriores do programa, o Esplar executou a construção de cisternas em sete municípios cearenses, dois deles atingindo a universalização, ou seja, 100% da rede de ensino com abastecimento de água regular. Os municípios universalizados são Chorozinho e Caridade. O encerramento da quarta e última etapa do programa Cisternas nas Escolas ocorreu quinta-feira (28) no Grêmio de Recreio e Estudos de Caucaia e reuniu professores das escolas beneficiadas.
O encontro de encerramento contou com a participação de Francisco Martins, professor da escola Nossa Senhora da Conceição, do assentamento Santa Bárbara, em Caucaia; Tereza Vasconcelos, professora do curso de Geografia da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e integrante do Observatório das Políticas Públicas do Mundo Rural (OPLURAL); e Odalea Severo, supervisora do Projeto Paulo Freire na Secretaria do Desenvolvimento Agrário do Governo do Estado do Ceará.
A escola do assentamento Santa Bárbara é fruto de muita luta da comunidade diante de um cenário nada favorável às escolas rurais, conforme Francisco Martins. “Nossa escola, passou sete anos em uma casa. Foi uma luta conseguir o prédio. O poder público não tem interesse em manter a escola no campo porque o custo da escola na cidade é menor. Sai mais barato pagar transporte. No entanto, é direito da criança estudar próximo a sua casa. Está na legislação. A escola não é só a escola. A escola é o coração da comunidade É lá que discutimos os problemas e surgem as soluções”, afirmou.
O professor compartilhou a realidade que vivencia no seu cotidiano com os demais docentes presentes no encerramento, mostrando os impactos que a cisterna trouxe à escola Nossa Senhora da Conceição, que foi beneficiada nas primeiras etapas do programa. “A cisterna é um instrumento pedagógico. Se você tem um conhecimento na escola, por que não construirmos isso junto com os alunos? Em torno de cada conhecimento desse, há uma atividade a se desenvolver”, garantiu o educador. Francisco defendeu o protagonismo dos estudantes e relatou as atividades desenvolvidas com mudas de plantas medicinais.
Em sua fala, Tereza Vasconcelos relembrou que, há 20 anos, ocorria a 1ª Conferência Nacional por uma Educação Básica do Campo. Aproveitando esse marco, a professora refletiu sobre as diferenças entre uma educação “do campo” e uma educação “no campo”. “Não é porque uma escola é no campo que será uma escola do campo. Quando eu falo do campo, eu falo de epistemologia, de currículo. Não é uma questão de localização. A Educação do Campo é muito mais do que uma linha teórica. Ela veio para quebrar paradigmas reinantes. Para quebrar a ideia de que campo é atrasado, que a educação é apenas para o trabalho”, explicou. A pesquisadora ressaltou ainda que os conceitos de urbano e rural se relacionam, não sendo adequado criar um antagonismo entre campo e cidade.
Ao criticar a construção simbólica estereotipada do Nordeste veiculada pela mídia, Odalea Severo destacou a importância de políticas de convivência com o semiárido. Para ela, a imagem do Nordeste como fracasso, miséria, pobreza e terra rachada deve ser ultrapassada. “Seca não se combate. Períodos de estiagem a gente convive. É possível encontrar mecanismos de convivência. Temos muitas potencialidades no Nordeste. Antes, era vergonho dizer que era do Nordeste. Hoje temos orgulho e sentimento de pertencimento”, afirmou.
Conforme Odalea, programas como o Cisternas nas Escolas viraram políticas públicas por causa do debate sobre a convivência com o semiárido. “Democratização do acesso à água é uma estratégia de convivência. Nós não estamos criando roda nova. Estamos resgatando estratégias que as famílias fizeram a vida inteira”, salientou. A supervisora reforçou ainda a importância de se levar esse debate para a sala de aula. “Agroecologia, acesso à água e convivência com o semiárido precisam ser pautados na escola. Se não entendermos as políticas públicas como direitos, vamos perdê-las. Não adianta fazer o debate somente com os pais. Tem que ser feito com a juventude”, alertou.
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