Mulheres dos municípios de Aiuaba, Arneiroz, Parambu, Quiterionópolis e Tauá viajaram para Nova Russas para conhecer a comunidade Irapuá
Sair de casa para participar de uma atividade comunitária pode ser um desafio para algumas mulheres. A sobrecarga de tarefas domésticas e o comportamento machista dos companheiros são exemplos de situações que dificultam a incidência política de mulheres nas comunidades onde vivem. “Uma vizinha minha queria ir para uma reunião e o marido trancou ela dentro de casa. A gente bateu em cima e hoje ela está participando das reuniões. Sempre que a gente sabe que o homem pega muito no pé da mulher, a gente vai lá e conversa com ele”, relata Raimunda Oliveira de Melo, conhecida como Simone, da Comunidade Quilombola de Jardim, Quiterianópolis.
Como presidente da Associação de Remanescentes de Quilombos, Simone luta pelo fortalecimento do grupo de mulheres da sua comunidade e pela maior participação feminina nas decisões coletivas. “Na primeira reunião, as mulheres estavam tristes, com medo das reações dos maridos, de eles não deixarem elas fazerem um grupo só de mulheres. Mas, eu, como não tenho medo de nada, conversei com elas. Vamos formar. Eles não vão achar nada. Você é dona da sua vida. Ele é apenas seu companheiro. E não seu dono”, relembra Simone.
Durante a execução do Projeto Paulo Freire, o Esplar – Centro de Pesquisa e Assessoria busca fortalecer a organização de grupos de mulheres em comunidades rurais dos municípios de Aiuaba, Arneiroz, Parambu, Quiterionópolis e Tauá. Como parte dessa estratégia, o Esplar promoveu viagem de intercâmbio com 20 mulheres de diversas comunidades entre os dias 28 e 29 de maio. Elas viajaram até Nova Russas para conhecer a experiência de dois grupos de mulheres da comunidade do Irapuá, Moarti e Abelhas Lutadoras do Sertão, que desenvolvem trabalhos com crochê, quintais produtivos, consórcios agroecológicos com algodão, entre outras atividades.
Se, para algumas mulheres, é difícil sair de casa para uma atividade dentro da própria comunidade, imagina quando é para uma viagem a outro município. Maria Cleide Fernandes, da comunidade Sítio Bananeira, em Aiuaba, recebeu alguns comentários nada animadores sobre sua ida ao intercâmbio. “Vai sair da sua roça para ir a outra roça? Eles disseram. Mas a minha roça não é igual à roça dela. Essa visita me mostrou que um grupo pequeno também consegue fazer coisas. Não é preciso ser um grupo muito grande. Vou repassar isso na minha comunidade”, prometeu.
As mulheres participantes do Projeto Paulo Freire conheceram a plantação de algodão do grupo Abelhas Lutadoras do Sertão, em Consórcios Agroecológico, e o quintal produtivo de Maria Vanusa de Carvalho, onde conheceram o bioágua, sistema de reuso de água cinza. Com um grupo recém-iniciado, Maria Ferreira do Nascimento, da comunidade Serra do Cipó, em Parambu, espera aprender com as mulheres do Irapuá e tentar transmitir o que aprendeu para as mulheres de seu grupo. “Achei o intercâmbio muito bom. Quero levar as experiências para a minha comunidade. Achei interessante o fato de elas produzirem juntas”, afirma.
A mais jovem entre as viajantes, Valéria Alves Pereira, 18 anos, da comunidade Serra dos Limas, em Parambu, conta que sofre pressão para casar e ser dependente de um homem. Apesar disso, ela revela que nunca pretendeu ser submissa e agora busca sua autonomia. “Tem muita mulher que fica só em casa e não busca ser independente. Com o intercâmbio, aprendi que é importante ser persistente naquilo que eu quero. Se eu quero, tenho que correr atrás e não esperar por ninguém”, ressalta.
O Projeto Paulo Freire é uma promoção da Secretaria de Desenvolvimento Agrário do Governo do Estado do Ceará, com apoio do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrário (FIDA). Os grupos Moarti e Abelhas Lutadoras do Sertão participam do projeto Educação para a Liberdade, realizado pelo Esplar em parceria com a We World. Além disso, as Abelhas aderiram ano passado ao projeto Consórcios Agroecológicos com Algodão Mocó, financiado pelo Instituto C&A.
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