Gadelha é dessas pessoas que apesar da pouca idade, já viveu muita coisa. Dos seus 26 anos de vida, sete anos ele morou em barraco de lona, acampado, somando na luta pela terra em Chorozinho. Natural de Pacajus, ele se faz presente no movimento pela terra desde 2005, após se mudar para o município de Chorozinho. Gadelha mora em seu terreno há quatro anos e conta que na luta ele aprendeu a valorizar a terra localizada no assentamento Rancho Alegre, mas sem se deixar acomodar, se colocando à disposição dos outros companheiros que ainda não tiveram acesso à terra.
Em 2008, ele concluiu um curso da escola camponesa pela CPT (Comissão Pastoral da Terra). Depois disso recebeu uma proposta para estudar na Escola Família Agrícola Dom Fragoso e em 2013, Gadelha se formou como técnico em agropecuária. Podendo agora aplicar o conhecimento técnico em seu terreno, ele se mostra realizado por poder trabalhar e oferecer uma vida mais sustentável para sua família.
Quando recebeu seu terreno em 2010, o espaço estava abandonado, o que fez Gadelha trabalhar duro para reflorestar a área: “aqui tinha aroeira, angico, pau-branco, frei jorge, pitiá, sabiá, juazeiro, aí o que eu fiz foi manter uma parte da mata nativa e plantar com rodízio de culturas para não degradar o solo. Primeiro fizemos o raleamento da área, arrancamos os tocos e depois começamos a plantar”, conta o agricultor.
Da exploração do trabalho à posse da terra
A família de Gadelha passou por um processo de exploração do trabalho antes dele decidir entrar no movimento para ter acesso à terra. O arrendatário colocava à disposição da família o terreno já dividido, dava as sementes aos trabalhadores e eles produziam, mas tinham acesso somente a 30% da produção, a maior parte ficava para o dono da terra.
Não possuir o título da terra é um grande incentivo para a mobilização no campo
Hoje Gadelha produz cebola, pimentão, mamão, banana e fala com orgulho da diversidade de culturas no seu terreno. Além disso, ele mantém uma relação harmoniosa com seus vizinhos sem ao menos cercar seu terreno: “aqui a gente utiliza o termo cerca da consciência. A gente tem que ter consciência que os outros precisam plantar, não pode soltar os animais dentro, né? Eu penso em colocar uma cerca verde, mas não pra separar o terreno, mas porque a gliricídea depois serve de alimento para a vaca que a gente cria”. A cerca da consciência que Gadelha se refere é um ponto importante da união entre os assentados próximos à sua propriedade.
Entre um roçado e outro ele conta sua história, como conheceu o vizinho mais próximo, nos barracões de lona onde ambos acampavam. O histórico de luta e o conhecimento técnico faz Gadelha desejar florescer cada palmo do seu terreno, pensando em um futuro sustentável para ele e sua família, porém sem nunca esquecer a dificuldade dos outros companheiros que ainda não tiveram acesso a cultivar seus roçados nos próprios terrenos.
Por João Martins