Lição de reciprocidade e respeito ao meio ambiente com as abelhas nativas em Chorozinho - CE
No Semiárido Brasileiro, a relação das pessoas com o meio é bem diferente do que ocorre no espaço urbano. Existem relações de reciprocidade entre espécies, onde o cuidado faz com que ambas estejam em harmonia com o meio. O desequilíbrio nesse ambiente pode gerar também o desaparecimento de algumas espécies. A relação dos agricultores e agricultoras com as abelhas nativas, ou meliponas, quando baseada no equilíbrio, torna possível uma convivência mais harmoniosa com a região.
Na cidade de Chorozinho, muitos agricultores criam abelhas nas suas casas, em caixotes que eles chamam de “cortiços”. Seu Paulo conta que lida com as abelhas desde a década de setenta e muito aprendeu com elas nesse tempo. Com ajuda da mulher, ele prepara o barro pra fechar o cortiço após mostrar a organização da colmeia. Fala da sua saúde e que, apesar dos setenta anos, ainda consegue ter o vigor e o fôlego da juventude. Entre um cortiço de Jandaíra e um cortiço da Jati, ele conta sobre os benefícios à saúde trazidos pelo mel das abelhas nativas. Dentre cerca de trinta cortiços, 27 são de abelhas Jandaíras, mas ele também lida com Jati e Cupiras.
Carão lida com as abelhas nativas há mais de vinte anos. De três em três meses ele multiplica sua produção, hoje ele tem mais de trinta cortiços de Jandaíras. Ele também afirma que antes era mais comum encontrar as meliponas pela mata do Semiárido, nos troncos das árvores. Hoje em dia, com os desmatamentos, encontrar tais abelhas se mostra cada vez mais raro. Pelos motivos já citados, o papel dos meliponicultores de Chorozinho é importante para multiplicar a população de abelhas nativas na região, mantendo uma relação de reciprocidade entre os homens e as abelhas. Ainda se encontram em áreas mais preservadas espécies como a Jati, a Cupira, a Moça Branca, a Jataí e as Jandaíras. Isso porque, mais de 250 espécies das 300 que existem no mundo são encontradas aqui no Semiárido Brasileiro.
Dificuldades para a sobrevivência das meliponas
Muitas estão ameaçadas de extinção. Práticas como a queimada e o desmatamento, muito comuns no Semiárido Brasileiro destroem a morada e o alimento das abelhas nativas. A presença das abelhas ápis melífera mais conhecidas como abelhas italianas também ameaçam a existência das abelhas nativas, uma vez que, possuem uma população cerca de 30 vezes maior do que as nativas e são muito mais eficientes na coleta de alimentos. Nesse contexto de competição as meliponas saem perdendo e morrem de inanição por conta da falta de alimento.
O uso de agrotóxicos é outra prática que impacta a população de abelhas, pois o veneno fica presente nas flores, sendo um risco para a espécie que depende do pólen para sobreviver. Muitas pessoas também têm o hábito de derrubar a colmeia para colher o mel, achando que elas vão se reestruturar. Torna-se impossível a migração para as meliponas, pois sua abelha rainha, única reprodutora, é muito maior que as outras e não pode voar por conta do seu abdômen ser muito pesado.
Lição de reciprocidade na convivência com o Semiárido
As abelhas têm muito a ensinar em termos de organização de trabalho para a humanidade, sendo um importante termômetro de equilíbrio ambiental nos territórios onde vivem. As meliponas estão diretamente relacionadas com o bem-estar do bioma no qual estão inseridas, já que são responsáveis pela polinização de várias plantas nativas da caatinga.
Por isso o trato com as abelhas por parte de Seu Paulo, Carão, Luiz e tantos outros agricultores do Semiárido Brasileiro é uma forma de manter vivas as espécies. A presença dos cortiços próximos às casas é um sinal de que a coexistência das meliponas com os agricultores e agricultoras da região, é benéfica para ambos.