O Inca aponta no documento o elo entre os transgênicos e o aumento no consumo de agrotóxicos no Brasil: “É importante destacar que a liberação do uso de sementes transgênicas no Brasil foi uma das responsáveis por colocar o país no primeiro lugar do ranking de consumo de agrotóxicos, uma vez que o cultivo dessas sementes geneticamente modificadas exige o uso de grandes quantidades destes produtos.”.
Consta no documento que o modelo atual de cultivo com uso intensivo de agrotóxico pode acarretar em poluição ambiental e intoxicações agudas e crônicas. Na intoxicação aguda, mais comum entre os trabalhadores e trabalhadoras do campo, os sintomas são irritação de pele e olhos, coceira, cólicas, vômitos, diarreias, espasmos, dificuldades respiratórias, convulsões e morte.
Já a intoxicação crônica pode afetar toda a população e resulta do contato com o veneno em ambientes diferentes e, geralmente, em pequenas doses, mas que está associado a casos de infertilidade, abortos, impotência, malformações, neurotoxicidade, desregulação hormonal, efeitos sobre o sistema imunológico e câncer.
O posicionamento do Inca traz ainda os últimos resultados do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos (PARA) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que revelam a presença de agrotóxicos em quantidades acima do limite permitido e até mesmo de substâncias não autorizadas. “Além disso, também constataram a existência de agrotóxicos em processo de banimento pela Anvisa ou que nunca tiveram registro no Brasil.”, denuncia o documento.
Os resultados da Monografia da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) volume 112 também são citados no documento: o herbicida glifosato e os inseticidas malationa, diazinona, tetraclorvinfós e parationa foram considerados prováveis agentes carcinogênicos para humanos. Segundo o documento, a malationa, a diazinona e o glifosato têm uso amplo e autorizado no Brasil.
A Anvisa divulgou, no dia 07 de março, um esclarecimento sobre os usos das substâncias citadas na Monografia da IARC no Brasil.
Caso em Apodi
A morte do agricultor Valter Freitas Tavares, de 58 anos, em Fortaleza, ocorre um dia depois, 09 de março, da divulgação do posicionamento do Inca contra as atuais práticas de uso de agrotóxicos no Brasil. Valter era agricultor da Chapada do Apodi, em Limoeiro do Norte, e estava internado há 25 dias no Hospital Geral de Fortaleza (HGF) com um quadro de Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico.
O agricultor trabalhou por cinco anos em uma empresa agrícola na Chapada do Apodi, a maior parte do tempo atuou na aplicação de venenos em plantações de banana e abacaxi. Valter participou de uma pesquisa desenvolvida pelos médicos hematologistas Ronald Pinheiro e Luiz Ivando, que constatou os efeitos do veneno. Os médicos dizem que não há ainda como confirmar se a morte do agricultor está relacionada com a contaminação pelo agrotóxico. A pesquisa investiga a morte de trabalhadores e o alto índice de câncer em Limoeiro do Norte, 30% maior do que regiões não agrícolas.
Fonte: Inca e Diário do Nordeste
Com revisão de Ronildo Mastroianni, técnico do Esplar