Memórias do Esplar: Carta do agricultor Antônio Sabino (1976)

O depoimento mostra a contribuição das casas de sementes na autonomia de agricultores e agricultoras.

O Memórias do Esplar desta semana traz o depoimento marcante do agricultor Antônio Sabino, da comunidade de Bom Jesus, em Tauá. O depoimento do agricultor foi entregue em forma de carta para a equipe do Esplar em fevereiro de 1976.

A carta está presente no 2º Relatório Preliminar da Avaliação do Projeto de Educação Pré-cooperativista. A avaliação foi uma atividade do Esplar no projeto desenvolvido pela Diocese de Crateús.

Segundo relato do sócio do Esplar Pedro Jorge, o seu Antônio entregou a carta após um debate sobre casa de sementes. Na época, o seu Antônio utilizava o nome banco de sementes (saiba a diferença entre as denominações banco e casa de sementes neste post do Blog do Esplar). O depoimento do agricultor mostra a relação de dependência que os agricultores e agricultoras tinham com os proprietários de terra para conseguir sementes para o plantio e como as casas de sementes ajudaram na autonomia de agricultores e agricultoras.

Confira a carta:

“O Banco de semente começou por meio destas pessoas que andam fazendo reunião. Então, viram as necessidades das famílias pobres que comentavam a situação nas faltas de inverno e quando chegava o outro inverno não tinha alimento para plantar. Então, o que fazia? Ia na casa dum proprietário aventureiro que sempre guarda para essa ocasião. Acontece, então, que chove pela noite, o pobre levanta pelas 5h da manhã e vai lá. Chega e diz: “seu fulano, me arrume um legumezinho para eu plantar”. Ele responde: “trouxe a enxada para trabalhar?”. Ele [o agricultor] diz: “não”. O proprietário fala: “pois vá buscar que de tarde leva [as sementes]”. Aí, o pobre se obrigava porque não tinha em casa! Então, esse pessoal, sabendo que os pobres sofriam por estas partes, conseguiram o banco de sementes para facilitar. Eu mesmo achei muito bom. Isso porque tomei emprestado 5 litros de milho para dar oito mais.  Destes 5 litros, colhi mais de mil litros porque aproveitei as primeiras chuvas e, por isso, estou muito satisfeito com estas orientações deste pessoal que procura ajudar o pobre. Eles também nos trazem uma “Lei da Renda” e o Estatuto da Terra, que nos orientam muita coisa.”

A carta digitalizada pode ser conferida no Facebook do Esplar.

Colaboraram com esta postagem Pedro Jorge e Malvinier Macedo.

Foto: Pedro Jorge

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