A Associação de Desenvolvimento Educacional e Cultural de Tauá (ADEC) ficou em 2º lugar no Prêmio Tecnologia Social 2019, da Fundação Banco do Brasil, na categoria Gestão Comunitária e Algodão Agroecológico.
Mulheres dos municípios de Aiuaba, Arneiroz, Parambu, Quiterionópolis e Tauá viajaram para Nova Russas para conhecer a comunidade Irapuá
Sair de casa para participar de uma atividade comunitária pode ser um desafio para algumas mulheres. A sobrecarga de tarefas domésticas e o comportamento machista dos companheiros são exemplos de situações que dificultam a incidência política de mulheres nas comunidades onde vivem. “Uma vizinha minha queria ir para uma reunião e o marido trancou ela dentro de casa. A gente bateu em cima e hoje ela está participando das reuniões. Sempre que a gente sabe que o homem pega muito no pé da mulher, a gente vai lá e conversa com ele”, relata Raimunda Oliveira de Melo, conhecida como Simone, da Comunidade Quilombola de Jardim, Quiterianópolis.
Como presidente da Associação de Remanescentes de Quilombos, Simone luta pelo fortalecimento do grupo de mulheres da sua comunidade e pela maior participação feminina nas decisões coletivas. “Na primeira reunião, as mulheres estavam tristes, com medo das reações dos maridos, de eles não deixarem elas fazerem um grupo só de mulheres. Mas, eu, como não tenho medo de nada, conversei com elas. Vamos formar. Eles não vão achar nada. Você é dona da sua vida. Ele é apenas seu companheiro. E não seu dono”, relembra Simone.
Durante a execução do Projeto Paulo Freire, o Esplar – Centro de Pesquisa e Assessoria busca fortalecer a organização de grupos de mulheres em comunidades rurais dos municípios de Aiuaba, Arneiroz, Parambu, Quiterionópolis e Tauá. Como parte dessa estratégia, o Esplar promoveu viagem de intercâmbio com 20 mulheres de diversas comunidades entre os dias 28 e 29 de maio. Elas viajaram até Nova Russas para conhecer a experiência de dois grupos de mulheres da comunidade do Irapuá, Moarti e Abelhas Lutadoras do Sertão, que desenvolvem trabalhos com crochê, quintais produtivos, consórcios agroecológicos com algodão, entre outras atividades.
Se, para algumas mulheres, é difícil sair de casa para uma atividade dentro da própria comunidade, imagina quando é para uma viagem a outro município. Maria Cleide Fernandes, da comunidade Sítio Bananeira, em Aiuaba, recebeu alguns comentários nada animadores sobre sua ida ao intercâmbio. “Vai sair da sua roça para ir a outra roça? Eles disseram. Mas a minha roça não é igual à roça dela. Essa visita me mostrou que um grupo pequeno também consegue fazer coisas. Não é preciso ser um grupo muito grande. Vou repassar isso na minha comunidade”, prometeu.
As mulheres participantes do Projeto Paulo Freire conheceram a plantação de algodão do grupo Abelhas Lutadoras do Sertão, em Consórcios Agroecológico, e o quintal produtivo de Maria Vanusa de Carvalho, onde conheceram o bioágua, sistema de reuso de água cinza. Com um grupo recém-iniciado, Maria Ferreira do Nascimento, da comunidade Serra do Cipó, em Parambu, espera aprender com as mulheres do Irapuá e tentar transmitir o que aprendeu para as mulheres de seu grupo. “Achei o intercâmbio muito bom. Quero levar as experiências para a minha comunidade. Achei interessante o fato de elas produzirem juntas”, afirma.
A mais jovem entre as viajantes, Valéria Alves Pereira, 18 anos, da comunidade Serra dos Limas, em Parambu, conta que sofre pressão para casar e ser dependente de um homem. Apesar disso, ela revela que nunca pretendeu ser submissa e agora busca sua autonomia. “Tem muita mulher que fica só em casa e não busca ser independente. Com o intercâmbio, aprendi que é importante ser persistente naquilo que eu quero. Se eu quero, tenho que correr atrás e não esperar por ninguém”, ressalta.
O Projeto Paulo Freire é uma promoção da Secretaria de Desenvolvimento Agrário do Governo do Estado do Ceará, com apoio do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrário (FIDA). Os grupos Moarti e Abelhas Lutadoras do Sertão participam do projeto Educação para a Liberdade, realizado pelo Esplar em parceria com a We World. Além disso, as Abelhas aderiram ano passado ao projeto Consórcios Agroecológicos com Algodão Mocó, financiado pelo Instituto C&A.
Projeto Contexto receberá a Gestora Operacional da Seção de Cooperação da Delegação da U.E, Sra. Maria Cristina Araújo von Holstein-Rathlou.
A semente é o que dá vida à agricultura. Sem a semente sob a terra banhada pela chuva, o milho, o feijão, o gergelim e qualquer outro vegetal não brotam para a superfície. Mais do que um pequeno alimento, a semente é sinônimo de liberdade para a agricultora e o agricultor plantarem na hora certa, logo após as primeiras chuvas.
De 27 a 29 de maio, economistas, especialistas em previdência social e militantes de diversas entidades e movimentos vão desmascarar as intenções do governo Bolsonaro com a PEC 06/2019.
Declaração Jubileu Sul Américas
V Assembleia Regional
Guatemala 2019
Tzk´at
“Você sou eu, eu sou você”
Nós, representantes de 18 organizações de 13 de países da América Latina e Caribe participamos da V Assembleia Regional da Rede Jubileu Sul Américas, na Guatemala, entre os dias 1 e 4 de abril de 2019, reconectados pelo espírito de nossos antepassados dos povos originários de Abya Yala, buscamos recuperar a continuidade da Teia da Vida que foi interrompida por modelos de desenvolvimento que violam nossos corpos e nossa mãe terra.
Rememoramos com profunda dor nossas companheiras e companheiros Berta Cáceres, de Honduras; Roli Escobar, da Guatemala; Dina Puente, de El Salvador; Samir Flores y Betty Cariño do México; Sergio Rojas, da Costa Rica, e Marielle Franco do Brasil, entre muitas outras e outros, assassinados por defender os direitos humanos dos povos, de seus territórios e da natureza. Suas memórias nos fortalecem e nos acompanharam durante este encontro.
Vemos com grande indignação a interferência imperialista em nossa região e o rumo em que estão tomando muitos dos governos com a direitização da política, aprofundamento da militarização e do modelo neoliberal que prioriza os interesses corporativos sobre os direitos dos povos a uma vida plena e o cuidado com a natureza para as atuais e futuras gerações.
A crescente violência institucionalizada demonstra que existe uma verdadeira guerra pelos territórios contra os povos indígenas, camponeses, quilombolas, afro-americanos e caribenhos para consolidar o modelo extrativista, de megaprojetos e agronegócio, que expulsa as populações, contamina a natureza e põe em risco suas formas de vida. Preocupa-nos, em particular, a crescente violência no México, Colômbia, Guatemala, Honduras e Brasil.
Governos corruptos, capturados pelo poder corporativo impulsionam o modelo neoliberal, os tratados de livre comércio e os processos de privatização de setores estratégicos como o da água e da energia.
Frente à resistência dos povos a este modelo e seus impactos, judicializam e criminalizam as defensoras e defensores de direitos, militarizam os territórios tanto por meio do Estado como por meio de grupos paramilitares/milícias das empresas. Esta situação tem provocado novas ondas de migração com graves consequências, aumentando assim, os feminicídios e todas as outras formas de violência contra as mulheres, crianças e adolescentes.
Existe na maioria de nossos países um crescente endividamento financeiro, que assume diversas formas e condições. Já não são somente os grandes bancos e instituições financeiras internacionais, mas sim uma diversidade de instituições, países e atores privados que passam a conduzir os processos de endividamento e de financeirização. E dessa mesma forma ocorre com os orçamentos públicos, com os direitos e os serviços básicos os quais são subordinados ao modelo neoliberal de produção e consumo. Estas dívidas ilegítimas são pagas com ajuste fiscal e a exploração sacrificando o povo e a terra.
Analisado o contexto regional, nós, as organizações que formamos a Rede Jubileu Sul Américas, nos comprometemos a fortalecer nossas articulações para a defesa de nossos povos, dos territórios urbanos e rurais, e da natureza, contra toda forma de endividamento ilegítimo e seus projetos de privatização, neoextrativismos, de mega-infraestrutura, agronegócio e outros projetos devastadores. Assim, também aprofundaremos a luta contra a dominação imperialista, capitalista, colonialista, patriarcal e racista. Neste sentido, reiteramos as exigências dos diferentes povos que neste momento estão envolvidos em batalhas na defesa de seus territórios, pela soberania alimentar, pela não privatização da água e da energia, pelo direito à cidade, pela moradia digna e por outras lutas para recuperar a rede da Vida.
Denunciamos o assassinato, a criminalização e a judicialização de ativistas, defensores e defensoras de direitos e exigimos que cessem todas as formas de perseguição e ameaça à luta dos povos por seus territórios e identidades, o que põe em risco todos os direitos humanos, coletivos e da natureza. Responsabilizamos os governos por todas essas violações e exigimos que cumpram com seu dever de garantir os direitos dos povos ao bem viver em harmonia com a mãe terra.
Repudiamos os novos acordos dos governos da região com o Fundo Monetário Internacional com a Argentina, Equador, Haiti e Nicarágua, que impõem medidas de austeridade aos nossos povos. Do mesmo modo denunciamos o papel regressivo que está exercendo a Junta de Controle Fiscal ao promover o ajuste estrutural em Porto Rico.
Exigimos que se priorizem os orçamentos dos Estados para o bem comum e não sigam endividando os povos e a natureza; exigimos a reparação integral às pessoas e a restauração dos ecossistemas afetados, destruídos pelos empréstimos e projetos que têm gerado dívida social e ecológica. Repudiamos ainda o incentivo à economia verde e as falsas soluções para enfrentar a crise climática.
Convocamos todas as organizações e pessoas a não permitir nenhum tipo de violência contra nossos corpos e nossa mãe terra. Fazemos um chamado a que se irmanem com as lutas das comunidades originárias pelo direito a seus territórios comunitários e ancestrais.
Rechaçamos o bloqueio contra Cuba, Venezuela e Porto Rico. Defendemos a paz frente à guerra, em favor da autonomia, autodeterminação e soberania de todos os povos. Repudiamos qualquer tentativa de intervenção militar imperialista na região.
Apoiamos veementemente a decisão do povo haitiano que luta por sua autonomia depois de quinze anos de ocupação militar.
Com esta declaração, as organizações da Rede Jubileu Sul se comprometem, na recuperação e na continuidade da Teia da Vida, que significa o respeito à diversidade e pluralidade, à reciprocidade e ao cuidado com nossos corpos, povos e da mãe terra, para esta e para as futuras gerações.
Tzk´at: “eu sou você, você sou eu”
NÃO DEVEMOS, NÃO PAGAMOS. OS POVOS SÃO OS VERDADEIROS CREDORES. JUBILEU SUL AMÉRICAS, GUATEMALA, ABRIL DE 2019.
A Casa de Semente da comunidade quilombola da Base foi implantada pelo Esplar por meio do Programa Sementes do Semiárido.
A Plenária "Mulheres Agricultoras Experimentadoras" ocorreu dia 12 de fevereiro, durante o V Encontro de Agricultoras e Agricultores Experimentadores, em Juazeiro do Norte.
“Dia a dia a tragédia anunciada, por ser voz sempre pronta pra falar. Que este mal não se pode aceitar sem antes se fazer o bom combate, pois se for pra eu calar antes me mate, pois em vida ninguém vai me calar”. A poesia da cordelista cearense, Daniela Bento, abriu a Plenária "Mulheres Agricultoras Experimentadoras", que aconteceu na tarde da última terça-feira (12), durante o V Encontro de Agricultoras e Agricultores Experimentadores, em Juazeiro do Norte/CE. O momento que contou com a presença de cerca de 80 mulheres, trouxe a reflexão sobre as conquistas, enfrentamentos e desafios das mulheres frente à conjuntura política atual. O espaço foi facilitado pelas agricultoras experimentadoras Antonieta Santana, do Assentamento Tiracanga, no município de Canindé/CE, assessorada pelo Esplar - Centro de Pesquisa e Assessoria, e Maria do Céu, que veio de Solânea, na Paraíba.
Nas falas, as mulheres trouxeram os desafios de protagonizarem suas lutas dentro de casa, no trabalho, na comunidade e em espaços de organização como grupos, associações e sindicatos. “Não foi de graça que a gente conseguiu chegar até aqui, foi com muita luta. Muita gente falou da Marcha das Margaridas, porque o enfrentamento que nós fizemos foi com muita luta. Nós enfrentamos nossos filhos, nossa família. Pra gente chegar aqui não foi fácil”, disse a agricultora do Norte de Minas Gerais, Jesuilda Celeste. Ainda no campo dos desafios, ela destacou: “Outro enfrentamento muito forte que estamos enfrentando é a mineração do ouro. No assentamento que eu moro a gente não usa veneno, o que a gente produz é agroecológico, mas a gente tem que lidar com eucalipto e com a mineração do ouro”.
Na perspectiva do acesso a políticas e do empoderamento feminino, dona Maria Ana, agricultora experimentadora do Assentamento 10 de Abril, município do Crato/CE enfatizou: “Quantas comunidades ainda não estão precisando de uma cisterna, de uma associação, de uma palavra dessa: - mulher tu faz o que quer porque o mundo é nosso! Quantas mulheres não têm ainda que fazer só o que os homens colocam ela pra fazer? Mas tem mulher que tem medo do homem e tem muita mulher acomodada ainda”, afirma.
Nos últimos anos as populações do campo e da cidade têm testemunhado a extinção de políticas e programas que estavam contribuindo para a melhoria de vida das pessoas, principalmente das populações mais vulneráveis, mulheres e jovens. Neste contexto, Andreia Sousa, coordenadora de projetos do Esplar, explicita que, de 2005 até 2016, viu muitas políticas públicas específicas para as mulheres, assistência técnica para mulheres, equipes formadas exclusivamente por mulheres. "Antes dos projetos, as mulheres tinham produção, mas todas as políticas públicas para as mulheres vieram para somar. Hoje não vejo isto, mas vejo que as mulheres terão o desafio de continuar fazendo, mas, sobretudo, percebendo e falando sobre o que nos foi negado”, ressalta Andreia.
Para a agricultora membro do Movimento das Mulheres Trabalhadoras do Nordeste (MMTR) em Pernambuco, Ana Paula, um divisor de águas foi o protagonismo das mulheres. "A auto-organização foi e é um instrumento tanto na construção das políticas públicas como também no seu controle. Eu acho que a gente tem conquistado muitas coisas, e desde 2016 perdemos muitos. Mas eu vejo, que nós mulheres somos as primeiras que enfrentamos, pra dizer que temos nossos direitos e que vamos continuar lutando por eles”.
A violência contras as mulheres, em especial, às mulheres negras, transsexuais e lésbicas que ainda são invisibilizadas. “Se as mulheres brancas e cis morrem, as mulheres lésbicas morrem duas vezes por serem mulheres e por serem lésbicas”, salientou Daniela Bento ao lembrar da empatia que as mulheres devem ter respeitando as diferenças e a realidade de cada uma.
Por fim a coordenadora da ASA pelo estado da Paraíba, Glória Batista, ressaltou a importância da participação das mulheres no Encontro. “É com nossa força feminina e feminista que vamos participar do V Encontro de Agricultoras e Agricultores Experimentadores, pois sem o saber das mulheres não é possível fazer agroecologia”, disse Batista.
Fonte: ASACOM
V Encontro Nacional de Agricultoras/es Experimentadores ocorre em Juazeiro do Norte, de 12 a 15 de fevereiro.
Nós, entidades-membro da Rede Jubileu Sul Brasil, manifestamos nossa profunda dor e solidariedade às famílias que perderam seus entes queridos no crime socioambiental cometido pela Vale S. A. no dia 25 de janeiro, em Brumadinho,na região metropolitana de Belo Horizonte (MG). Manifestamos nossa indignação e repúdio ante a conduta reincidente e criminosa desta empresa, já eleita uma das piores do mundo.
Além de causar a morte de centenas de trabalhadoras e trabalhadores – celetistas e terceirizados–, de moradoras, moradores e visitantes, o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, tal como em Mariana, causou incontáveis impactos ambientais,despejando cerca de 12 milhões de metros cúbicos de lama e rejeitos tóxicos, vitimando inumeráveis seres vivos, incluindo toda a vegetação, e gerando a contaminação do rio Paraopeba (um dos afluentes do rio São Francisco), o que afeta a agricultura, a pesca e o modo de vida da população ribeirinha.
O crime irreparável é resultado do modelo econômico brasileiro, que é centrado na exportação do meio ambiente transformado em commodities, como o minério de ferro utilizado na fabricação de material bélico que espalha a morte, o extermínio e o êxodo dos povos. O crime é também resultado de uma política irresponsável de fiscalização e do desmonte da política ambiental que se agrava com as mudanças climáticas e prejudica todos os seres vivos da Terra.
O rompimento dessas barragens é o alerta que denuncia este modelo de subdesenvolvimento, historicamente implantado na América Latina, aprofundado e consolidado no Brasil ainda neste século XXI, que destrói nossa população tradicional, que não investe nos nossos conhecimentos sobre o aproveitamento dos recursos naturais, nem na capacitação científica e tecnológica e exaure a natureza.
As dívidas humana e ambiental geradas pela Vale S.A. são irreparáveis e devem ser investigadas seriamente. A Rede Jubileu Sul se compromete a seguir lutando por justiça ante este crime, associando-se às diversas organizações de atingidos e setores organizados da sociedade civil. Ademais, ao incorporar as lutas emancipatórias contra as dívidas socioambientais como eixo central de nosso trabalho, também nos comprometemos a seguir apoiando as diversas lutas em defesa da vida das mulheres, dos povos tradicionais e quilombolas atingidos por este crime anunciado.
São Paulo, 4 de fevereiro de 2019
Rede Jubileu Sul Brasil
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